A temporada de 2012 da NCAA foi quase perfeita para Notre Dame - literalmente. Por um jogo, justamente a final, os Fighting Irish não se sagraram campeões e coroaram uma fantástica jornada. O líder nato daquele time era o LB Manti Te'o, que ajudou a defesa de ND a conseguir uma média de apenas 10 pontos cedidos por jogo - segunda melhor marca da NCAA - além de liderar os linebackers em termos de interceptações. Recebeu oito premiações (nunca nenhum jogador defensivo havia recebido tantos prêmios individuais) no final de 2012 e ficar em segundo na votação para o Heisman Trophy.
Te'o chegou a ser, em dezembro, a primeira escolha geral de muitos Mock Drafts nos EUA. Era cotado para sair nas primeiras escolhas do Draft de 2013. Até seu mundo começar a desmoronar. No BCS Championship Game, Alabama atropelou Notre Dame e venceu seu terceiro título em quatro anos pelo placar de 42x14. Te'o, assim como toda a defesa de ND, teve uma exibição muito aquém do que se esperava - terminou o jogo com 10 tackles, sendo que apenas 3 deles executados sozinho. A linha ofensiva de Alabama dominou a defesa dos Fighting Irish de uma forma assustadora.
As pessoas começaram a questionar Te'o. "Seria ele incapaz de brilhar em jogos decisivos?"Contudo, isso não era o suficiente para abaixar o seu valor no Draft, e Te'o continuava como uma escolha Top 10. Até o escândalo sobre sua namorada vir à tona. Questionou-se muito o caráter e a integridade do atleta após esse episódio - que muitos já consideram, meses depois, encerrado - seu valor no Draft despencou. Aí veio o Combine e Manti Te'o decepcionou a todos de novo. Foi bastante lento no seu 40yd dash (4.78s) e teve números medianos nos demais exercícios, diminuindo ainda mais suas posições no Draft. Para alguns especialistas Te'o já era cotado para sair na segunda rodada.
Eis que, na trigésima oitava escolha do Draft de 2013, os Chargers orgulhosamente (como disse o anunciante da pick) selecionaram o atleta. Imediatamente, começaram a surgir comparações com o ídolo da torcida dos Bolts, o também linebacker e já falecido Junior Seau. Seau foi ídolo dos Chargers, jogou 12 temporadas em San Diego e participou do time que chegou ao Super Bowl XXIX, tendo inclusive jogado o AFCCG daquela temporada com uma lesão no nervo do pescoço.
Os Bolts naquele ano foram ao Super Bowl depois de um mediano 11-5 na temporada regular e duas viradas históricas no Divisional Round, contra os Dolphins de Dan Marino (estavam perdendo por 21x6 no intervalo e viraram para 22x21) e os sempre poderosos Steelers (estavam perdendo por 13x3 e viraram para 17x13). Perderam o Big Game para os 49ers de Steve Young, que estabeleceu naquela partida o recorde de TD's lançados no SB, com 6. Junior Seau teve um final trágico. Em maio do ano passado cometeu suicídio em sua residência, em San Diego.
Essas comparações entre Te'o e Seau, além de inevitáveis, têm um certo grau de coerência. Tanto Manti Te'o quanto Junior Seau são de origem polinésia (arquipélago localizado no oceano pacífico, na Oceania), ambos jogaram por universidades tradicionais (Seau por USC e Te'o por Notre Dame), jogam na mesma posição, tem quase o mesmo tipo físico (LB mais forte, mais físico do que atlético), espírito de liderança e amor pelo jogo, além de características muito semelhantes, como o estilo de jogo - tanto Seau quanto Te'o são LBs que não atacam muito o QB, jogando mais no segundo nível da defesa, justamente por não possuírem o atleticismo necessário para chegar no backfield.
Manti Te'o pode ser o próximo Junior Seau para os Chargers. Encontrará na equipe de San Diego um vestiário unido, sem intrigas, muito apoio dos companheiros (Eric Weddle, safety, e o QB Philip Rivers já se manifestaram publicamente sobre a escolha de Te'o e ambos ficaram muito felizes em ter o LB no roster), carinho da torcida e profissionais experientes em lidar com situações que envolvem muita atenção da mídia (Mike McCoy, HC, estava nos Broncos no auge da "TebowMania" e Tom Telesco, GM, estava nos Colts quando Chuck Pagano enfrentava a leucemia). Além disso, San Diego é uma cidade com um clima muito parecido com o que Te'o costumava conviver quando ainda morava no Havaí.
Motivos não faltam para nos convencermos que Te'o e os Chargers têm tudo a ver. Só o tempo nos dirá se essa escolha valeu a pena, mas todos sabemos do talento que o ex-Irish tem e que só depende dele para que seu nome fique eternizado na história da franquia da Califórnia, assim como o de Junior Seau está.
Via TheConcussion